O ENCOURAÇADO POTEMKIN/SEMINÀRIO INTEGRADOR II
No dia 4 de Abril assistimos no Laboratório de Informática, junto ao pólo de educação à distância da UFRGS em Três Cachoeiras, cenas do filme “O Encouraçado Potemkin”. Fomos conduzidos a descrever as ações mostradas em uma parte do filme, sendo que nada havia sido falado, ou seja, o filme não teria sido contextualizado para com os alunos. Portanto o que seria descrito, a seguir por nós, envolveria percepções ilusórias, baseada em hipóteses.
Ao assistir as cenas do filme pela primeira vez, analisei cada reação dos personagens de uma maneira bastante particular. O mesmo pude definir com a seguinte descrição:
Unido a um jogo de Câmeras parte de um conflito é tomado, as vítimas, sempre em close, os malvados sempre escondidos em sombras.
Murmuras, lamentos e prantos misturam-se entre a diversidade de seres... São jovens, crianças, adolescentes, adultos, idosos e até bebês.
Expressões faciais entregam o desespero, a inquietação e a agonia. São rostos sofridos e amedrontados.
Junto a um número considerável de pessoas, observa-se um contraste entre a defesa humana e a patriarcal. Guardas e soldados, friamente, mas cientes de seu dever, ameaçam seus semelhantes.
No meio do conflito, desce um carrinho de bebê pelos degraus. Com certeza, é uma das cenas mais impactantes da história.
Como não lembrar do desespero tocante da mãe ao perceber que seu bem mais precioso havia sido levado por causa de uma briga tão injusta e cruel? É o tipo de cena que fica martelando sua cabeça, fazendo pensar sobre os conflitos que por tantos e tantos anos assombram a história da humanidade, e que, assustadoramente, parece não ter data para se encerrar.
A discussão e os questionamentos realizados no grupo, logo após a descrição individual de cada aluno, norteou idéias muito parecidas, só que cada um enalteceu cenas mais significativas, ao seu ponto de vista. Umas destacaram o sofrimento da mãe que viu seu bebê descer as escadas desamparado, outras destacaram a imagem dos homens do exercito, assim como as inúmeras pessoas descendo as escadarias desesperadas. Para todos foi um mesmo filme, mas nem todos destacaram as mesmas imagens.
Conforme nos diz Marilena Chauí apoiada nas idéias de Aristóteles “Ver é olhar para tomar conhecimento e para ter conhecimento”. Só que este olhar tem de se tornar cognoscente e não apenas espectador desatento. É necessário ver, observar, examinar, fazer ver, instruir, instruir-se, informar, informar-se, conhecer, saber... Ou seja, o olhar não pode ser simplesmente um vídeo, este precisa ver através de uma maneira reflexiva.
O olhar simples e puramente como um vídeo foi o que nos/me distanciou da “verdade”. O que parecia ser uma guerra de soldados, militares defendendo algo do governo, contradiz-se com um massacre do povo de Odessa pela guarda imperial do Czar. É nesta parte que ocorre uma cena que ficou para a história do cinema, citada por vários diretores: a do carrinho de bebê que rola escada abaixo após a morte da mãe. Ao assistir a esta cena, parei no sofrimento da mãe, mas a mensagem ia muito além. A referência à figura da mãe pode simbolizar o desprezo à fraternidade e a incapacidade dos homens do exército em reconhecer sua igualdade de origem com o povo de Odessa. Mas, lembro-me de algumas outras cenas que não foram citadas por nenhum dos colegas do grupo que participei da discussão, logo em seguida.
*Guarda-sol avança até cobrir o campo de visão. Rompe-se o clima inicial desta parte. Surge uma estátua (do Czar, talvez) e inicia-se o massacre do povo pelos Cossacos do exército imperial.
* Uma criança é atingida, desfalece e é pisoteada. A câmera dá um close na pisada que um homem dá em sua mão. Sua mãe enlouquece. Toma o filho no colo para denunciar a insanidade do massacre. Anda contra a corrente da multidão que foge e é impiedosamente morta pelo exército. Ênfase na crueldade.
*Outra mãe, com um carrinho de bebê na escadaria, é assassinada. Após close na fivela de seu cinto, ela é mostrada caindo e empurrando acidentalmente o carrinho escada abaixo.
*Uma face de mulher, mostrada anteriormente rindo, aparece agora chorando e se desesperando com o rolar do carrinho pela escadaria. Num corte brusco, surge o couraçado que responde ao ataque destruindo o Teatro de Odessa, sugerindo que a violência é gerada pela violência.
Portanto, realizar esta atividade só me fez compreender a necessidade de desenvolvermos um olhar observador que procura ver para frente e o ver com profundidade. Como nos diz Marilena Chauí: “A aptidão da vista para o discernimento – é o que nos faz descobrir mais diferenças”. Isto, a partir do momento em que “... O conhecer passa a clarear a vista, como se o saber permitisse, enfim, olhar”.
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